23/04/2020 07:38
Em entrevista exclusiva ao Blog Abrapp em Foco, Margot Greenman, Fundadora e CEO da Captalys, analisa os principais desafios e preocupações para as carteiras dos investimentos dos fundos de pensão no cenário de crise gerada pela pandemia do COVID-19. A gestora acredita que a crise atual, apesar de séria, é temporária. Ela ressalta ainda que a prioridade, neste momento, deve ser a saúde da população e que os governos e Bancos Centrais devem atuar para minimizar os efeitos da crise.
A especialista ressalta a característica de longo prazo das carteiras das fundações como uma oportunidade de manter o foco na preservação de capital durante o período em que a crise está na fase mais crucial. Ela acredita que as políticas de investimentos em direção à diversificação e inclusão de ativos alternativos deve continuar até porque o nível dos juros continua reduzido. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Blog Abrapp em Foco - Como analisa os principais impactos da pandemia de COVID- 19 sobre os investimentos das entidades fechadas (EFPC)?
Margot Greenman - Os fundos de pensão são, por natureza, investidores de longo prazo. Suas alocações seguem uma estratégia definida para a carteira de maneira global, e as decisões de investimento visam um prazo de investimento mais longo. Desta forma, é muito difícil avaliar o impacto dos investimentos dos fundos de pensão pelo desempenho de qualquer mês ou trimestre.
Blog - Quais os principais pontos de preocupação?
Margot - Nesta crise especificamente, a falta de clareza em relação à duração desta redução de atividade econômica dificulta muito a precificação de todos os tipos de ativos. Mas, como já estamos vendo sinais de retomada de atividade econômica na China, o esperado é que os mercados possam se estabilizar.
Blog - Os governos e Bancos Centrais devem atuar decisivamente para promover estímulos para a economia?
Margot - Sim, esta tendência deve ser reforçada pelo esforço coordenado de governos e bancos centrais para promover estímulos econômicos e proteger pequenas e médias empresas e trabalhadores autônomos, o elo mais fraco dessa cadeia e principal ponto de preocupação do ponto de vista econômico. Nossa principal questão, neste momento, é com a saúde das pessoas. Mas, do ponto de vista dos investimentos, esta crise, ainda que aguda, é temporária.
Blog - Qual deveria ser o foco das fundações neste momento?
Margot - Em momentos de maior tensão, como o atual, o foco deve ser, em primeiro lugar, na preservação do capital e na mitigação dos riscos. Os fundos de pensão têm uma vantagem grande em momentos de volatilidade por causa da sua capacidade de investir para o longo prazo. Nestes momentos, a grande maioria dos investidores precisam lidar com um cenário de liquidez muito alterado, porém, os fundos de pensão, não. Isso permite que eles possam aproveitar de boas oportunidades que sempre apareçam em tempos de mais incerteza.
Blog - Acredita que haverá maior diversificação para investimentos alternativos ou os fundos de pensão voltarão a ser mais conservadores, preferindo os títulos públicos?
Margot - Entendemos que esses fundos têm, por definição, uma visão de longo prazo. Por isso, não há uma perspectiva de mudança de estratégia. A crise atual é séria, mas momentânea, sobretudo quando se olha para o horizonte de investimento desses agentes. E dado o cenário atual, com a queda ainda mais expressiva de juros, os fundos de pensão precisarão continuar a trabalhar pela diversificação de suas carteiras. Vemos investimentos alternativos como uma classe de ativos que oferece retornos ajustados ao risco muito atraente e de forma alinhada com o prazo de investimento dos fundos de pensão.